por João Paulo Reis (@joaopaulodreis)
Não é muito fácil
compreender as relações burocráticas que regem as distribuições de conteúdos
audiovisuais, sobretudo as séries exportadas para o Brasil. É correto afirmar
que por ser indústria do cinema, Hollywood trouxe também a TV americana para
mais perto de todo o mundo, e isso é refletido nas nossas conversas e cultura
diária. Somos consumidores vorazes de toda essa cultura de massa que nos é
apresentada, seja em forma de filmes, séries, animações ou reality-shows.
Falando especificamente das séries, num passado não muito distante, a única forma de se ter acesso à elas era através da TV por assinatura, ou então esperar para que elas fossem compradas por algum canal aberto que certamente as dublarias e exibiriam-na num horário nada favorável ao telespectador. Com a internet o nosso leque de possibilidades aumentou significativamente, nos dando opções quase sempre alegres de assistir aquela série que amamos antes mesmo da exibição na TV por assinatura brasileira.
Lembro-me ainda do primeiro
episódio que baixei na internet. Era um episódio de "Traveler", série
de 2007, cancelada no 8º episódio, exibida pela ABC nos Estados Unidos e pela
Warner Channel no Brasil. Naquela época a banda larga mostrava tímidas
velocidades e o formato de arquivo mais popular era o RMVB, e mesmo sem tanta
qualidade de imagem eu ficava feliz da vida porque ainda assim era um grande
avanço não depender da TV para assistir às minhas séries preferidas. No Brasil
ainda não temos leis em relação à pirataria on-line, isso se deve também à
menos da metade da população nacional ter acesso à rede (48% segundo dados de
Pesquisa do IBGE publicada em novembro de 2011), mas sim, o caso dos downloads de
séries e filmes se encaixa nesse padrão.
É muito cômodo sim assistir a algo à
hora que se quer e no suporte que tivermos disponível, seja ele no próprio
computador, no iPod, tablet, pela TV (usando pen drive ou HD externo) ou
gravando alguma mídia com aquele conteúdo, mas isso de certa forma prejudica
aqueles que trabalham diretamente na produção desses conteúdos que amamos, e
isso já foi sim motivo de muita falação e até da greve de dezenas de
roteiristas no final de 2007, pois os mesmos alegavam que deveriam receber uma
participação nos lucros obtidos pelas emissoras nas vendas dos conteúdos que
eles criaram fosse na forma de home vídeo (DVD's e Blu-rays) ou downloads pagos
dos conteúdos (geralmente via iTunes). Mas vamos transportar a situação para o
Brasil, usando um seriado conhecido como exemplo: "The Vampire
Diaries", o seriado que é sucesso em terras tupiniquins e em sua terra
natal constitui uma das melhores audiências do canal que o exibe, a CW,
atualmente tendo encerrado sua terceira temporada por lá, e por aqui se mantém
na incerteza da exibição e sem data de estréia dessa temporada definida pela
Warner Channel, canal que avisou que a estréia da terceira temporada acontecerá
no mês de Julho, com 10 meses de atraso em relação à estréia americana.
Considerando que a série mantém uma grande legião de fãs, esses tiveram suas
opções reduzidas apenas ao uso da internet, através de downloads, os mesmos
que o mundo do entretenimento considera ilegais.
A questão a ser pensada pelas
programadoras de TV por assinatura é justamente o quanto atrasos como o citado
podem prejudicar as emissoras ou caso não aconteçam tornar mais amplo o alcance
delas diante os assinantes. A conta é simples: Uma série de grande sucesso no
Brasil, exibida simultaneamente à sua exibição nos Estados Unidos gera maior
audiência, com isso maior número de inserção de comerciais naquela faixa
horária, mais lucro para os canais, maior buzz em redes sociais (acompanhando o
resto do mundo), telespectadores mais fiéis e claro um número menor de
downloads “ilegais”. Aí você se pergunta “Por que ninguém pensou nisso antes”?
Sim, a HBO pensou e assim como já fez com “Games Of Thrones”, trará no próximo
dia 10 de junho a estréia simultânea da quinta temporada de “True Blood”
juntamente com os Estados Unidos. Muitas programadoras e canais brasileiros
continuam na confortável posição de dizer que não existe possibilidade de
exibir às séries com menor atraso (ou sem ele), porque a legendagem
é uma operação cara e demorada. Mas como os Legenders
(pessoas que fazem legendas e disponibilizam na internet) conseguem fazer esse
trabalho em 24 horas e de graça? É fato que o serviço de TV por assinatura
brasileiro cresceu a olhos vistos depois da abertura do mercado para a entrada
das empresas de telefonia, e para alcançar mais pessoas foi necessário queda
nos preços, mas essa queda não pode ser inversamente proporcional à qualidade
do serviço prestado. O que quero dizer é que enquanto tivermos atrasos na
exibição das séries pelos canais de TV, não adianta nenhum tipo de SOPA
brasileira como já foi cogitado no Congresso, afinal a internet tem sido nossa
aliada e nossa única saída.
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