[TV] Dublagens X Legendas

por João Paulo Reis (@joaopaulodreis)

No fim de 2011 houve certo alarde por parte dos assinantes de TV, sobretudo os mais antigos envolvendo uma questão delicada: o conteúdo dublado dos programas nos canais pagos. O fato não é novidade desde que a Fox em 2007 dublou sem piedade todo o seu conteúdo, e conseguiu alavancar melhores números em audiência ganhando uma nova parcela de público mesmo que isso custasse afugentar seu público antigo. E seguindo essa tendência, as distribuidoras de conteúdo e programadoras dos canais resolveram limar a opção com áudio original dos programas, deixando o consumidor sem opção.



A grosso modo, você que é assinante de um serviço merece que o  mesmo seja bem cumprido fazendo valer o valor que você desembolsa mensalmente correto? Mas como já sabemos, nas operadoras os clientes da base tem pouquissimos privilégios se comparados aos clientes novos, e agora isso se estende às programadoras que resolveram dublar seus conteúdos apostando na tão falada nova Classe C, que segundo pesquisa da ABTA (Associação Brasileira das TV's por Assinatura) é a classe que elevou o crescimento do serviço de TV por assinatura no país, cujos 76% tem como preferência o conteúdo dublado.

A abertura do mercado das TV's pagas para as empresas de telefonia deixou a concorrência acirrada, fazendo com que o marketing das operadoras se voltasse com força para preço e promoção, dando uma atenção difrente ao produto oferecido ignorando seus clientes que já estavam acostumados a um tipo de conteúdo.
Não quero fazer deste texto uma luta de classes, já que há quem diga que com esse tipo de discurso posso estar sendo elitista ao pregar que o conteúdo legendado e com áudio original deva ser mantido. Vamos a algumas considerações:

a) alguém que acredita que é elitismo manter os programas legendados e com áudio original, estará em outras palavras com um pré-conceito de que as pessoas de menor renda não tendem a acompanhar as legendas, o que sabemos, não é verdade.

b) Como consumidores de um serviço devemos ser respeitados e ter opção de escolha pela forma como queremos assistir a determinado programa, se dublado ou legendado, afinal esse tipo de alternativa já nos é familiar seja num conteúdo em DVD ou Blu-ray.

Mas há disponibilidade técnica para tal? Sim. Inclusive me surpreendeu a programadora Globosat estar atenta ao consumidor nesse quesito já que seu canal Megapix, voltado para o público cativo dos filmes dublados, passou a colocar a legenda eletrônica e o áudio original para que o telespectador possa ter o direito e o conforto de assistir da forma que quiser. Isso em minha opinião é respeito com quem consome seu produto. Ao anunciar suas novas atrações no início do ano exclusivamente dubladas, canais como Sony, Sony Spin, AXN e FX causaram a ira de seu público nas redes sociais, e no mesmo compasso a HBO2 resolveu apostar em toda sua programação dublada (tendo áudio original e legendas como opção). Os canais que oferecem a possibilidade de escolha costumam não fazer isso em toda a sua programação, o que deixa perdidos os assinantes.

Foi criado pelo site Ligado em Série em fevereiro uma petição on line, o Movimento #DubladoSemOpçãoNão, que conseguiu mais de 6 mil assinaturas de usuários que queriam fazer valer seus direitos exigindo que todas as emissoras não impusessem programas dublados sem a opção para o áudio original. Surtiu efeito? Sim. Como esperado? Não.
Diferente do que foi programado, o Sony lançou suas novas séries legendadas com reprises dubladas nos fins de semana.

Warner Channel que ainda se mantinha com séries e filmes legendados, deixando dublados apenas seus filmes exibidos à tarde, começou em maio as reprises das duas primeiras temporadas da série "The Vampire Diaries" e já anunciou que a terceira temporada tardiamente estreará na grade do canal com som em português, e o Universal Channel seguirá pelo mesmo caminho.

Aconteceu na terça-feira, 05 de junho, o Fórum Brasil de Televisão cujo um dos painéis discutia exatamente a questão legendagem versus dublagem de filmes e séries, e foi lá onde o diretor do Universal Channel, Paulo Barata, discursou alegando que para estar entre os canais mais assistidos é necessária a dublagem, ilustrando sua afirmação com os números de audiências comparando os 20 programas mais assistidos em 2007 e 2011. "A grande maioria usa a primeira opção de áudio. Se não está como ele gostaria, é mais provável que troque de canal" ¹, ele diz, destacando ainda que a TV por assinatura por ser segmentada poderia cada canal trabalhar com seu nicho, seja ele o pró-legenda ou não. Meus questionamentos aqui são: A TV está criando um telespectador preguiçoso que não dá ao trabalho de procurar a melhor opção?
Concordo que o serviço de TV por assinatura seja segmentado tanto por gêneros, idades, programas e agora idiomas, mas se todos os canais resolverem se transformar em dublados essa chamada segmentação de público vai cair por terra.

Não sei onde exatamente eu li, mas a desculpa dos diretores dos canais dublados é que com o conteúdo dessa forma, o telespectador pode fazer outras coisas e sair da frente da TV sem perder o raciocínio do filme. Explicação estapafúrdia essa, afinal se não queremos ficar diante da TV ou nos afastar dela, o mais lógico seria comprar um rádio.

Não sou contrário às dublagens, sou sim contrário à imposição delas, e como telespectador devo dizer que não quero ouvir a voz da Paulina de "A Usurpadora" a cada vez que a Sandra Bullock aparecer na tela. A criação de um personagem está além de sua imagem, em sua voz também, afinal seu timbre e entonação dão aquele tom que o programa precisa, seja cômico, dramático ou emocional. Como fazer para por numa dublagem os tons e todas as vozes feitas pela personagem Karen (Megan Mullally) da série "Will and Grace" por exemplo?




PS¹: Maioria não pode ser medida em tamanho Sr. Barata.

Nenhum comentário:

Postar um comentário